No dia 09/12 estivemos
reunidos para o último encontro desse semestre com o intuito de discutir o
texto recentemente aprovado dos companheiros Moska, Clayton e Rubens. Eu, João
Pedro, redijo essa ata. Devo dizer que essa reunião foi de especial dificuldade
em relação à escrita desta, pois não seguimos uma linha de raciocínio “com
clareza” e diferentes conceitos foram expostos para a melhor compreensão do
texto. Diferentemente das outras já escritas neste semestre, tentarei me ater
tanto ao que foi falado, como também sobre as minhas impressões e interpretações
do debate no dia e em relação ao texto. Portanto, advirto que todos os pontos
aqui elencados fazem parte, estritamente, da minha visão de descrição do
encontro.
·
BORGES, C. C. de O.; VIEIRA, R. A. G.; CASTRO, V. Pensar a contemporaneidade de outros modos:
contribuições da perspectiva foucaultiana e deleuze-guatarriana.
·
Opção em vídeo: Curta Modernidade Revolutions. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=J4ND1ks3tfA
Rubens iniciou falando
sobre um dos objetivos do grupo: a preparação e o comprometimento do grupo em
ajudar para o ingresso no mestrado (com revisão de projeto; orientações sobre o
tema; quais linhas e universidades se encaixam melhor naquilo que @ candidat@
se interessar e etc.). Também apontou um caminho fértil para cada um que queira
seguir por essa área. Lembrando que essa é apenas a exposição de uma
possibilidade com base naquilo que @s integrantes se mostram interessados, não
é, de forma alguma, a única alternativa. A saber:
Leandro:
Estudos Culturais e a sua
possibilidade de articulação com o Hip Hop, tema já de seus trabalhos
anteriores.
Vinicius:
Cibercultura e a sua articulação com
os games e a realidade escolar.
Wellington:
Já tem um projeto completo, o qual caberia na linha 3 da UFSCar, ou no GEPEFE,
grupo de estudos da Universidade de SP (USP), liderado por Marcos Garcia e
Mario Nunes.
Moska:
Será coagido a inscrever-se nos próximos processos seletivos.
Entrando propriamente
no tema do texto Rubens apresentou as ideias dos escritos e de onde vieram as
inspirações. É sabido que o insight para a sua construção teve
seu início com o companheiro Moska que percebeu na trilogia Matrix uma
possibilidade de articulação com temas velhos conhecidos nossos, mas nem por
isso muito claros em nosso pensamento: pós-modernidade; pós-estruturalismo; identidade
e diferença e etc. Ao meu ver, toda a nossa discussão girou em torno da
explicação desses conceitos que, claro, não podem ser completamente abordados
em anos de carreira acadêmica, quem dirá em duas horas de reunião.
Para tanto, farei um
exercício (que pode ser chamado de esboço) onde tentarei, de forma muito
simples, em poucas linhas, dentro do meu entendimento, abordar sinteticamente
estes conceitos.
Comentário
de início: uma coisa que precisa estar clara em nossa mente
ao adentrarmos este campo é que, dificilmente, um autor considerar-se-á um
pós-moderno ou um pós-estruturalista. Seus livros não começarão com o subtítulo
de “este é um texto pós-moderno”. O movimento que é feito é o de aproximação de
suas ideias com o contexto pós-moderno, por exemplo: “Tal autor é considerado
um pós-moderno”.
Contudo, essas
respostas, aproximações, linkamentos, muitas vezes não são
feitos de forma clara; ainda por cima, o autor pode ser considerado em fases
diferentes como é o caso de Foucault, que é considerado um estruturalista no
início de seu trabalho e um pós-estruturalista no final (e rejeitador de
qualquer um desses enquadramentos) o que acaba dificultando qualquer tipo de
divisão.
O mesmo acontece com
outros campos: Estudos Culturais, deleuzeanos, “ciberculturalianos” (para
citar referências do grupo) – nenhum virá com legenda. Como saber de onde
derivam, então? Só o tempo de leitura, acompanhamento, e reconhecimento de
conceitos comuns ou criados lhe trará uma escassa clareza. Talvez pareça um
pouco complicado, mas é um movimento mais natural do que se imagina.
Pós-modernidade:
ao
meu ver, esse movimento, independentemente da área em que esteja situado
(filosofia, artes plásticas, cinema, literatura), tem como característica
principal o questionamento das metanarrativas (LYOTARD,
1979). Por esse termo, dentro deste esboço, entende-se qualquer
explicação que tente dar conta do todo, propor um
universal.
Autores modernos de
diversas áreas inclinavam-se seriamente à possibilidade de pensar o todo: o
sujeito, a educação, as leis, etc. Suas teorias tinham como característica, se
abordadas as leis, por exemplo, de criar metanarrativas em relação a estas e
contribuir para a construção última de uma constituição que regesse a todos os
homens e mulheres de todos os lugares.
No entanto, o que fazia
com que agissem com tamanha pretensão? Pelo fato de estarem confiantes na
capacidade racional do ser; por entenderem a história de forma linear, ou seja,
quanto mais tempo passa, mais evoluímos; por acreditarem que como “civilização
pensante”, “tecnológica”, localizavam-se em estágio mais evoluído do que
outras; e outros motivos.
Nietzsche, o possível,
e considerado com cautela, precursor do pensamento pós-moderno, em seus
escritos colocava em dúvida essa grande verdade esperada. Ao não aplicarmos as
grandes verdades, as grandes metanarrativas sobre esses assuntos citados acima,
temos a dimensão sobre o quão importante torna-se a teorização pós-moderna que
procura não se apoiar em argumentações com fins últimos: e por isso pós-moderna.
O que não inflige em relação de superação, mas localização diferente na
geografia do pensamento. Seria um tiro no pé dizer que o pós-moderno superou o
moderno. Superou por quê? Aproximou-se mais da verdade última?
Pós-estruturalismo:
não
há uma definição categórica. Diferentemente do “pós-moderno”, se perguntarem-me
uma definição de pós-estruturalismo não saberei dizer. No entanto, vou utilizar
do exemplo dado no encontro para tentar situar o que é, ao meu ver, essa
corrente teórica. Foi dito que um dos argumentos de oposição ao pós-modernismo
seria: “proponha para um pós-moderno que se jogue em frente a um ônibus em
movimento para ver o que acontece com a sua dúvida sobre a existência da
realidade”.
Acredito que aqui
esteja uma característica chave do pós-estruturalismo: a desconstrução. Não se
trata da dúvida sobre a realidade material, tampouco se o ônibus existe em
matéria física ou não. O questionamento é em relação a contingência do
conhecimento, as relações de poder que orientam, os vetores de força que
constituem o discurso de que aquilo seria um ônibus.
Em outras palavras,
duvida-se de uma essencialidade de qualquer objeto, uma cadeira por exemplo,
que possa afirmar que aquilo é de fato, em verdade única, em realidade, uma
cadeira. São considerados as relações de poder constituidoras dos discursos que
validam o conhecimento sobre algo ser uma cadeira: prega-se a separação entre
signo, significado e significante.
Desse ponto de vista, a
“realidade verdadeira e última” nunca é alcançada e disso a dúvida sobre um dia
alcançarmos qualquer “realidade”. Foucault escreveu sobre a arbitrariedade dos
conhecimentos em relação ao louco – um místico, um portador de conhecimentos
esotéricos, algo que deve ser excluído, preso, tratado, etc. Escreveu sobre a
possibilidade de construção do sujeito e anunciou “o fim do homem” como o
conhecemos, sugerindo suas inevitáveis novas perspectivas. Por promover esse
tipo de desconstrução e, claro, outros motivos, é considerado um autor
pós-estruturalista.
Identidade
e diferença: para essa exploração, tentarei me ater,
muito brevemente, dentro da perspectiva dos Estudos Culturais. Na minha
leitura, a identidade pode ser vista em relação à dois processos não isolados: “identificação”
e “identidade validada”. A identificação está relacionada ao sujeito que se
identifica com um determinado grupo, discurso de um determinado grupo, atitudes
de um determinado grupo e assim por diante. A identidade validada é, dentro das
relações discursivas e de poder, aquele grupo que possui a validação. A
identidade só pode ser pensada em grupo, pois determinado grupo deve ser
validado, ou identificamo-nos com determinados grupos. Atualmente e dentro de
um pensamento conservador, qual seria a “identidade validada”? O branco, o
macho, o heterossexual, o cabelo liso, etc. Podem ocorrer “identificações” com
essa identidade? Sim, claro! Podem não haver identificações com essa
identidade? Sim, claro! Dentro desse contexto de não-identificação é que se
entende a diferença: aquilo que escapa à norma. Quando “diferença” for usada
nesses termos conceituais é, ao meu ver, em relação ao que escapa à identidade.
Quando foi citado que o movimento
homossexual tenta, de certa forma e também não enfraquecendo a luta pelo
reconhecimento, se equiparar a identidade em relação ao casamento, é porque o
casamento monogâmico, regido por um padre ou um pastor, faz parte da
“identidade validada”. Poderíamos apenas não casarmos. Mas seríamos diferença.
Contemporaneidade:
considerado
o período atual, iniciado após a revolução francesa de 1789 – válido para o
Ocidente.
Michel
Foucault (1926-84), Gilles Deleuze (1925-85) e Felix Guatarri (1930-1992): filósofos
franceses contemporâneos. Recentes pesquisas realizadas por alguns membros do
grupo são provindas de suas inspirações. Deleuze e Guatarri mantiveram uma
parceria em consideráveis produções de suas obras.
Estudos
Culturais: a origem de um centro com esse nome
(Centro de Estudos Culturais Contemporâneos) ocorreu na Inglaterra por volta
dos anos 1960, apesar de sua fundação estar inspirada em produções realizadas
por volta de 1950. Stuart Hall (1932-2014), teórico fundamental para o GEPEF,
assume sua liderança em 1969. Seus (e outros) estudos sobre cultura, virada
linguística, identidade e diferença, influenciam profundamente nossas
produções.
Perto do final,
discutimos sobre as possibilidades de leituras e novas contribuições para o
semestre que vem. Listo aqui as contribuições oferecidas:
·
Leandro: para as férias, a leitura do
livro Documentos de identidade – Tomaz Tadeu da Silva.
·
João: aprofundamento em um quadro
teórico, ou conceitos de um teórico.
·
Rubens: continuarmos com as análises da
produção do grupo e convidar pessoas que não participam do GEPEF para que
possam contribuir com suas áreas de pesquisa.
·
Clayton: acha interessante a
possibilidade de chamar pessoas que não participam do grupo.
·
Vinicius: disponibilização de textos
base para a compreensão de alguns conceitos aqui esboçados e outros.
Antigamente,
terminávamos com uma frase motivacional do companheiro Moska. Dessa vez o apelo
será um pouco menos emocional e mais sugestivo. Para terminarmos o semestre, a
sugestão é de que assistamos o vídeo abaixo e possamos contra-argumentar
algumas proposições de Newton Duarte: autor que alega abertamente contra a
pós-modernidade. Mas, claro, aos que não quiserem posicionar-se de maneira
oposta, mas sim concordar, firmo aqui o meu apoio e incentivo! São deixadas
algumas sugestões do autor para que possamos refletir.
-
Impossibilidade de superação da sociedade capitalista pela perspectiva
socialista.
-
O pós-modernismo contribui para acreditar que acabou a história, não
superaremos o capitalismo.
Por fim, desejo a tod@s
um feliz natal, próspero ano novo, e que possamos voltar no semestre que vem
para continuarmos construindo um GEPEF cada mais forte!!