Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=KjQi7XpEj24
Texto
disponível em: http://www.gpef.fe.usp.br/teses/santos_junior_01.pdf
Seguindo
o ciclo de palestras planejadas para o segundo semestre de 2020, contamos com a
apresentação do Prof. Me. Flávio Nunes. Essa apresentação, se deu a partir de
seu dissertação de mestrado, orientado por Marcos Neira, na FE USP, instituição
e grupo de pesquisa que possuímos um vinculo bastante próximo. Dito isso,
Flávio inicia sua apresentação, fazendo uma introdução do referencial teórico
escolhido, que foram três: as epistemologias do sul com o autor Boaventura de
Souza Santos; a teoria decolonial através de um contato próximo com o grupo
modernidade/colonialidade; e o pós-colonialismo com através de Homi Bhaba.
Deste
modo, a pesquisa se embaçou com propriedade nesses três campos apresentados
acima, e uma coisa que se repete com frequência entre elas é a crítica a
modernidade e ao pensamento colonizado. Tomaz Tadeu da Silva, um autor que
Flávio utiliza para pensar o campo da Educação, entende que a proposta
educacional está presa na modernidade. Com isso, torna-se difícil experimentar
outros modos de pensar e sentir a educação, uma vez que a educação e o
currículo são sempre arena de confronto pela validação de determinado saber.
Por
essa via, explorando ainda sobre o pensamento moderno (racional), Flávio elenca
que, para a modernidade o conhecimento está sempre no singular, ou seja, há
somente um jeito de se fazer as coisas, e esse modo, é sempre por via da
ciência, logo, desvalida os outros saberes. Para as epistemologias do sul, como
Flávio bem aponta, a partir de Boaventura, o conhecimento/saber, está sempre no
plural, pois acontece em contato com o outro, embargam em uma ordem de
coexistência.
Rumando
para a parte das análises da pesquisa, que foi realizada através do
acompanhamento de aulas de Educação Física escolar na periferia de São Paulo em
escolar públicas, e também por meio de algumas relatos de experiências, que em
uma proposta da Educação Física, há diálogos com o referencial teórico
apresentado acima. E que, a partir disso, pretende contribuir com esses estudos
para pensar em outras ferramentas e possíveis reparos e manutenções para
corroborar a essa proposta, no caso, a do currículo cultural da Educação
Física. O que se destacou em sua análise foi que, nas práticas e nos relatos de
experiência, os professores e os alunos/as estavam como coautores, isto é,
estavam juntos no processo.
Caminhando
para o final da apresentação, Flávio destaca três mais relevantes de onde sua
pesquisa chegou, sendo eles: descolonização do currículo cultural;
ampliação da rede dos campos de inspiração; contribuição a um princípio
ético-político. O primeiro ponto, de acordo com Flávio, chama
atenção em relação que o currículo cultural estava em certo ponto bastante
colonizado, e que através e durante esse pesquisa, possa ter promovido pequenas
descolonizações. O segundo ponto citado, é bastante importante, pois Flávio
traz mais um referencial teórico para pensar esse currículo da Educação Física,
assim há uma ampliação dos campos de inspiração. E o terceiro, em relação a um
dos princípio ético-político, o de “reconhecer o patrimônio cultural corporal
da comunidade” (NEIRA, 2018, p. 43). Flávio aponta que não basta reconhecer o
patrimônio/práticas cultural, mas que, é preciso favorecer a enunciação
desses saberes. Para encerrar, Flávio criou um conceito para entender a
educação a partir da modernidade, para o autor, essa educação é um processo de pedagogicício.
Feita
a apresentação, foi aberto para que encaminhassem perguntas, dúvidas, críticas,
alguma parte para explorar mais etc. Assim Rubens inicia perguntando: você
poderia falar mais explorar mais a relação dos estudos culturais,
multiculturalismo crítico, e os estudos pós-coloniais, pois me parece que sua
pesquisa é inédita. Flavio responde: existe o diálogo com os estudos culturais
e o multiculturalismo, mas menção direta ao pós-colonialismo eu não encontrei nenhuma
pesquisa com a educação física escolar.
Em
sequência, Rubens pergunta: quais são as características que afastam o decolonialismo
do pós-colonialismo. Flávio responde: há uma crítica do grupo modernidade e
colonialidade aos estudos pós-colonias, pela utilização de autores europeus,
como Foucault e Derrida. Todavia, Boaventura diz que, isso é um modo essencialista
de pensar a Europa, pois dá a entender de que não há resistência lá.
Prosseguindo,
Barbara pergunta: como você vê o lugar de fala a partir dessa teoria? Flavio
responde: muito bacana a ideia e pertinente, pensando na atuação do professor a
partir dessa ideia, e pensando com o currículo cultural, entendo que o
professor é a pessoa que cria situações para que os representantes da prática
possam falar, como exemplo determinada prática corporal ou qualquer outro tema.
Elder e Kaique apontam como isso é interessante, pois, caso contrário há um
certo distanciamento de qual pessoa pode falar de determinado assunto.
Após
isso, Elder pergunta: das teorias apresentadas na sua pesquisa, você vê
diálogos com algum outro currículo da educação física, além do currículo
cultural? Flávio responde que: o currículo cultural prioriza isso por
excelência e não foi o foco da pesquisa, mas uma perspectiva que prioriza o
desenvolvimento de habilidades ou saúde, está longe de estabelecer diálogos.
Com isso, terminamos mais um encontro agradecendo a participação do professor
Flávio Nunes, lembrando que, devido a pandemia esse encontro ocorreu de maneira
remota.