terça-feira, 14 de março de 2017

GEPEF – 11/03/17 – Monstros, ciborgues e clones: os fantasmas da Pedagogia Crítica – TOMAZ TADEU DA SILVA

Dia 11 de março de 2017, primeiro encontro do ano do Grupo de Estudos em Pedagogia de Educação Física, GEPEF. Eu, João Pedro, integrante do grupo, estarei responsável pelos primeiros escritos do semestre já que a nossa escritora titular, Monique Camargo, iniciação científica deste semestre ainda, está participando do programa de intercâmbio da FEFISO/ACM e está impossibilitada de comparecer as reuniões. Fico duplamente feliz: em primeiro lugar por, de alguma forma, o GEPEF estar sendo (muito bem) representado no México, e também por estar tendo a oportunidade de redigir as atas novamente, mesmo que por um breve período de tempo.
Em primeiro lugar, foi dedicado um considerável espaço de tempo para as boas vindas aos nov@s integrantes, apresentações do grupo, dos seus já integrantes e os objetivos do grupo em geral e do semestre, listados por Rubens no slide que foi projetado na lousa:
Estudos em Educação Física na área de humanas
Complemento para a formação dos estudantes
Preparação e aprofundamento para atuação pedagógica
Inserção na vida acadêmica, participação de congresso, publicação de artigos, encaminhamento para o mestrado.
Vale o destaque sobre as universidades mais acessíveis que foram comentadas durante o encontro: UNISO, UNIMEP, UNICAMP e UFSCAR. Também nos foi relatado sobre um convênio com a USP, cujo objetivo é troca de experiências e informações. Igualmente vale destacar a promessa feita por Rubens: o primeiro do grupo que conseguir ingressar em um mestrado em alguma dessas faculdades, ou em qualquer outra, realizar a matrícula (cláusula importante), sairemos todos para comemorar em uma churrascaria e a conta do mestrando ficará por conta do professor.
Foram também apresentados os meios de comunicação, compartilhamento de ideias, opiniões, textos, meios de conversas e etc.: Whatsapp, Facebook, E-mail do grupo, Blog e Canal no YouTube. Ressaltando que o canal no YouTube não é um canal do grupo GEPEF propriamente dito, é o canal pessoal do Rubens onde são postadas algumas produções e, claro, pode ser um meio para posteriores produções do grupo. Uma produção dos integrantes já consta no canal .

1° Leitura: SILVA, Tomaz Tadeu. Monstros, ciborgues e clones: os fantasmas da Pedagogia Crítica. In: SILVA, Tomaz Tadeu (org.). Pedagogia dos Monstros: os prazeres e os perigos da confusão de fronteiras. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
Ao iniciarmos as discussões, foi dado espaço para que os integrante recém chegados pudessem expressar-se em relação ao texto. Alguns acharam um pouco difícil, outros acharam muito filosófico. Contudo, como já era esperado, o importante é que a grande maioria não compreendeu seus objetivos, o que queria dizer e, muito menos, o título. Muitos expressaram dúvida correspondente às afirmações do textos de que “não somos o que nós pensamos que somos” ou então “não fazemos aquilo que acreditamos que nós fazemos”. Foram feitas explicações breves, dentro daquilo que a complexidade das teorias e dos termos abordados permitia, e uma questão foi usada com exemplo: a professora Fabiana, recém integrante, relatou sobre um dos alunos dela ser taxado como “ruim” por outra professora, mas, em contrapartida, ela ter uma grande afeição pelo menino. Duas perspectivas podem ser abordadas a partir disto para tentar explicar a ideia de “não sermos o que pensamos ser”: a perspectiva do menino; e a perspectiva das professoras. Vemos que o aluno é atravessado por dois diferentes discursos - o que valida-o enquanto “ruim” e outro enquanto “bom”. A partir disso, já podemos começar a entender que, talvez, ele não seja algo, pois se ele fosse, de fato, essencialmente, bom, não poderia ser visto como ruim, ou o inverso, se fosse essencialmente mau, não poderia ser visto como bom. Nosso companheiro Moska, completando de forma bastante oportuna, propôs que fossemos além, então: analisemos as professoras e perceberemos que os discursos que as compõe enquanto entendedoras do bem e do mal são diferentes, o que torna o conceito individual, social e relativo, portanto, não fundamental.
Com isso, somos apresentados ao descentramento do “sujeito” que, para a teoria pós crítica, a qual é baseada o texto, não existe mais em essência e identidade, identificado enquanto branco, heterossexual, cristão e etc., como existia para as teorias tradicionais. São exemplos desses descentramentos: Freud e o inconsciente, descentrando o sujeito racional; o feminismo e o empoderamento das mulheres, descentrando o homem como o soberano; vários conceitos de Michel Foucault, filósofo bastante abordado durante as discussões mas neste exemplo descentrando o sujeito responsável por seus atos; os estudos linguísticos de Jacques Derrida e a virada linguística, descentrando o sujeito naturalizado e etc.
Logo, com o sujeito descentrado, tanto o analista quanto o analisado, temos então a criação de “monstros” que podem ser tanto a diferença do outro (em relação à mim e ao sujeito racional que foi idealizado), quanto a do próprio sujeito que analisa entendendo-se enquanto diferente do analisado. O monstro assusta; precisa ser vencido, precisa desaparecer; essa é, muitas vezes, a relação que temos com a diferença, no entanto, sem entender que também somos “monstros” em relação ao outro. O conceito de monstro não deve ser entendido enquanto algo ruim, ou um adjetivo para aquele que tem atitudes pejorativas, mas algo parecido com uma metáfora para explicar a relação entre subjetividade e os discursos externos que nos constituem e atravessam.
Foi proposto que os iniciados discorressem sobre a primeira afirmação do texto, julagada como base para a compreensão: “O sujeito racional, crítico, consciente, emancipado ou libertado da teoria educacional crítica entrou em crise profunda”.
Outro termo que ganhou evidência na discussão  foi o conceito de emancipação e libertação. Foi brevemente comentado e explicado sobre as passagens históricas da Educação Física enquanto teoria tradicional (com uma ideia de sujeito), das teorias Críticas (com outra ideia de sujeito, entretanto ainda essencial) e das teorias pós Críticas (sem ideia de sujeito essencial). Foi dito que as teorias críticas tem uma importância muito grande, porém o que nos faz pensar em ampliá-la, é justamente sua ideia de emancipação: emancipação do quê? Da concepção de ideia social e de sujeito das teorias tradicionais. Como tentam essa emancipação? Com outra ideia de sociedade e de sujeito. Ou seja, apenas um deslocamento da direita para a esquerda. O companheiro Clayton sugeriu o livro “Documentos de Identidade”, o qual possuímos em PDF, para os interessados. Livro de fácil leitura e com esse conteúdo muito bem abordado. Foi um levantamente interessante e alguns pontos ganharam destaque:
A escola é tradicional?
A escola dá lugar para o irracional ou o consciente?
O que a escola enxerga como racional e qual a identidade que se cria a partir disso?
A escola não acompanhou e não acompanha as mudanças dos alunos.
Proposto o documentário “Escolarizando o mundo” e “O pequena árvore”.
Perto do fim, o companheiro Clayton ainda sugeriu que apesar de entendermos que não existe um sujeito central, natural, essencial, não entendemos que somos como “caixinhas vazias” que absorvem e guardam todo e qualquer discurso: temos a oportunidade de mudar, temos a opção de escolher. Por isso, o cuidado de si, e a problematização são tão importantes para identificarmo-nos nas redes discursivas: por que eu penso como eu penso ou por que eu faço algo como eu faço?
Por fim, passamos de forma breve pela concepção de máquina de Deleuze e Guattari, para quem não há sujeitos, mas agenciamentos maquínicos entre singularidades, ou seja, nos subjetivamos na tensão do que há internamente e externamente, sem determinismos ou internalizações simples, sempre no sentido da produção de desejos.
Com isso, entramos em algo que, particularmente, acho de grande complexidade: é relativamente simples entender que o outro (o outro monstro) é constituído por discursos, contudo, é extramente difícil reconhecermos os discursos que nos constituem. O problema de questionar o sujeito é que, de um jeito ou de outro, acabaremos nos questionando. E, felizmente para uns, infelizmente para outros, não temos as respostas e nem as fórmulas para lidarmos com isso. Porém, acredito estar aí um dos grandes motivos da existência do grupo de estudos: para que não tenhamos as respostas, mas para que possamos sair de cada encontro com dúvidas novas.
Concomitante com esse encerramento, o companheiro Moska nos deixa novamente seu pensamento final (e mensal, esperamos o novo para o mês que vem): “Não desistam porque não entenderam algo, ou porque não conseguiram compreender alguns pontos. O legal é virmos, debatermos e comprovarmos que, de fato, ninguém entendeu nada sobre o texto!”
Como de costume, encerro novamente com uma questão surgida em debate: levando em consideração essa carga teórica, como é dar aula a partir disso?