No dia 21 de
outubro, estivemos reunidos na ACM Jd. São Paulo para mais um encontro do
GEPEF/FEFISO, e o sequente debate do texto “Cultura e Educação Física escolar”.
Eu, João Pedro, realizo a transcrição das atividades e discussões do grupo
neste referido dia.
O grupo
contou com um número um pouco reduzido de participantes do que o esperado
rotineiramente: acreditamos que pela mudança de local e pelo Sábado chuvoso. No
entanto, tivemos a primeira participação de Gabriela do primeiro período da
manhã.
Logo de
início, Rubens comentou sobre os processos de mestrado e ressaltou a
importância para os presentes que tinham interesse em algum processo seletivo
para essa modalidade de pós-graduação. Foi lembrado do nosso “convênio” com o
GPEF/USP e a afinidade de nossos temas com o grupo de São Paulo. Neste Sábado,
nosso encontro teve um formato um pouco diferente, já que o grupo precisava
ocorrer no mesmo polo que aconteceriam os jogos interclasses da faculdade e
Rubens necessitaria se ausentar por 1 hora do encontro, deixando a apresentação
do texto, que era de minha autoria, e a “condução” da discussão sob nossa
responsabilidade. Por isso, vale ressaltar que essa ata terá também um formato
um pouco diferente, tendo um aprofundamento das discussões um pouco reduzido
devido à falta de algumas anotações que eu normalmente faria se não estivesse
conduzindo a apresentação do texto: para a escrita deste texto,
recorro apenas as minhas memórias e algumas anotações que tive durante as
conversas e anteriormente a elas.
“- LOPES, J. P. G.; VIEIRA, R. A.
G. Cultura e Educação Física Escolar. Revista Brasileira de Educação Física
Escolar, Ano II, V1 - Jul. 2016.
- NEIRA, M. G.; NUNES, M. L. F.
Contribuições dos Estudos Culturais para o Currículo da Educação Física. Revista
Brasileira de Ciências do Esporte, vol.33, n.3, Porto Alegre, Julho/Setembro,
2011.
A dinâmica
tinha o intento de ser outra das que já tinham sido aplicadas: a primeira ideia
era de que @s companheir@s trouxessem suas interpretações, impressões, dúvidas
e etc.; a segunda ideia era de que tudo isso fosse comentado e as dúvidas
fossem tratadas da seguinte forma: se não houvesse linkagem com o texto, seriam respondidas de imediato; se houvesse linkagem com o texto, seria comentada no
decorrer da exposição; se não houvesse resposta, perguntaríamos ao Rubens, que
havia se ausentado para este início em decorrência do interclasses.
De início,
o companheiro Leo contribuiu com alguns comentários e questões que foram
debatidas antes do início do texto e que serão elencados aqui de maneira
bastante objetiva:
·
Sobre a sua impressão de que o
multiculturalismo possa agregar as aulas de maneira a evitar a constância das
aulas que apenas “rolam a bola” ou que as crianças entrem, desenvolvam algo sem
significado e voltem para as suas aulas.
·
As aulas poderiam estar embasadas na cultura
local de determinada região onde a escola se localiza? – Sim, a aula pode estar
baseada na cultura local e é justamente essa a proposta do Currículo Pós
Crítico cunhado por Neira e Nunes (2009)[1],
o qual é bastante diferente do tradicionalismo que já conhecemos e que exige um
aprofundamento e apropriação bastante grandes.
·
Com o conhecimento e desenvolvimento disso,
eu, como professor, qual a minha ideia de aula e como eu desenvolvo isso? –
Divido em duas respostas diferentes: como professor do ensino básico e médio
não tive uma experiência satisfatória da minha prática e logo, por opção
própria, decidi por recusar as minhas aulas. Sobre o que eu penso d@s
professor@s e d@s alun@s em aula, a resposta divide-se também entre os dois: em
primeiro lugar, ao recusar as aulas escolares práticas, permaneço fora do
escopo para opinar sobre como a prática deveria ser ou deixar de ser, no
entanto, acredito que ambos, professor@s e alun@s, devam encontrar significados
positivos em suas práticas, e isso pode ser alcançado com todos os diferentes
currículos já utilizados, não só o Pós Crítico.
A
companheira Eliza também contribuiu com alguns comentários e perguntas diretas,
dentre elas, exponho uma, a qual considero que foi melhor explorada:
·
Como se dá a escolha dos autores base e como
identificar os antagonismos presentes nas visões da cada um? – A escolha dos
autores bases deu-se mediante a participação do grupo e a leitura dos primeiros
textos que falavam sobre “o que era a Educação Física”. A posterior exploração
do quadro teórico e a exposição ou não de suas visões e teorias antagônicas só
se dá mediante a leitura e o conhecimento de diferentes autores, o que leva
tempo, pressupõe diferentes leituras, participação de debates e conversas. Vale
lembrar que, ao publicar esse artigo, tivemos a preocupação de “refinar” o
quadro teórico com o menor contraste possível em relação aos autores. No
entanto, ao escrever o meu TCC (de onde originou-se a publicação), também
utilizei autores que “não conversavam” entendendo que estaria acrescentando ao
meu referencial teórico: apenas com todos esses processos e no decorrer do
tempo pude ir diferenciando.
Sobre a
apresentação do artigo, teci alguns comentários de anotações que havia feito
antes do encontro acreditando que poderiam servir de conversa esclarecedora com
aquel@s que leram e não leram o texto. Como dito acima, a escolha dos autores
deu-se através das leituras do grupo em seus primeiros encontros que debatiam
sobre o “que era, afinal, Educação Física”. O não consenso dos autores sobre o
tema me chamou a atenção e apontei o estudo para esta vertente. Ao meu ver, o
que poderia estar influenciando esta distinção da
Educação Física já que ela não era igual e nenhum lugar? Cheguei ao argumento
da cultura e, logo, enveredei o estudo para a relação entre as duas áreas:
cultura e Educação Física.
Comentei que a ideia não seria
realizar um traçado histórico sobre os termos, mas que apresentaria muito
brevemente as duas, fazendo apenas as relações fundamentais do texto. Para
tanto, apresentei quatro livros bases para a construção do artigo e para as
discussões do grupo para aquel@s que tenham interesse em dar prosseguimento ao
assunto:
·
Educação Física, currículo e cultura – Marcos
Garcia Neira e Mario Luiz Ferrari Nunes
·
A Noção de cultura nas ciências sociais –
Denys Cuchê
·
Documentos de identidade: uma introdução às
teorias de currículo – Tomaz Tadeu da Silva
·
Educação Física progressista – Paulo
Ghiraldelli
Ao abordar
o primeiro termo que seria o da cultura, exponho algumas de suas interpretações
e momentos passados para o seu sentido polifônico hoje: passamos pela sua
etimologia, pelo seu sentido francês, seu sentido alemão, antropológico e dos
Estudos Culturais. Reforcei que acredito ter cometido um erro no trabalho – a
exposição desses conceitos favorecendo o entendimento de forma evolutiva e em
escala de se alcançar o “verdadeiro sentido”. É importante lembrar que todos
eles existem, todos são entendimentos e, talvez, o sentido francês ainda seja
muito mais utilizado apesar de ser o primeiro sentido dado à cultura fora do
cultivo e desenvolvimento dentro da agricultura, a primeira relação entre
cultura e civilização e seu status “culto ou inculto”, bastante criticado pelas
outras apropriações, principalmente a dos Estudos Culturais.
Ao definir
a cultura para os Estudos Culturais como uma disputa dentro das relações de
poder pela validação discursiva da própria cultura (e essa discussão pode ser
vista na relação exposta pela Sarah e os sapatos que um educador físico deveria
usar ou não), procuramos explorar essas relações dentro da Educação Física escolar
e do seu currículo. Se é que seria possível “tabelar” esse tipo de relação,
tentarei mostrar a ideia do artigo dentro da tabela abaixo como forma de
resenha.
Currículo Higienista
|
Ascenção do Capitalismo; Inchaço
populacional; Doenças proliferadas.
|
Militarismo
|
Ascenção dos militares sobre as oligarquias
rurais; Era Vargas.
|
Escola Nova
|
Queda de vargas e dos militares; Manifesto
dos pioneiros da educação nova
|
Esportivismo
|
Nova tomada de poder dos militares no
formato de ditadura; esporte como espelho de um país desenvolvido.
|
Psicomotricidade e Desenvolvimentismo
|
Queda dos militares; Novos estudos
biológicos e psicológicos.
|
Educação Crítica
|
Aumento da influência dos teóricos
marxistas; ideais modernos ainda bastante presentes
|
Educação Pós Crítica
|
Aumento da influência de teóricos “pós”:
marxistas, estruturalistas, coloniais, modernos, os multiculturalistas e etc.
|
Perto do
final, retomei uma discussão já conhecida pelos integrantes do grupo, expondo o
porquê de acreditar que seja um terreno fértil para novas pesquisas e suas
possíveis implicações culturais e como isso pode mudar drasticamente tudo o que
conhecemos por educação e Educação Física, seguindo as dicas históricas que
absorvemos com o desenvolvimento dessa pesquisa: as novas tecnologias da informação;
internet; cibercultura; ciborgues e etc. Para todos àquel@s que se interessarem
por esse tipo de pesquisa, estamos abert@s para novas conversas e possíveis
produções.
Agradecemos
por mais um encontro, e esperamos tod@s para o último encontro do grupo que,
como é de praxe fazemos nossa confraternização, abrimos espaço para
apresentações e aproveitamos um café da manhã diferente! Até o próximo, GEPEF!
[1] NEIRA,
Marcos Garcia, 1967- Educação Física, currículo e cultura / NEIRA,
Marcos Garcia; NUNES, Mario Luiz Ferrari. São Paulo: Phorte, 2009. 288 pág.