Segundo encontro:
Dia
26 de Agosto de 2017, segundo encontro do semestre para o
Grupo de Pesquisa em Educação Física escolar da FEFISO, o GEPEF. Estivemos
responsáveis pela escrita da ata Monique e eu, João Pedro. Pela primeira vez,
testaremos esse formato em que duas pessoas escrevem a ata de um mesmo
encontro. Podem ser enriquecedoras para o debate as concordâncias ou
contraposições que nascerem de duas escritas diferentes. Lembrando que, como
dado no início da primeira iniciação científica, o responsável pela ata é
sempre o pesquisador que desenvolve este tipo de trabalho no grupo, porém,
ainda não temos um resultado “oficial”. Enquanto isso, alegro-me de poder,
junto com a Monique, registrar os acontecimentos.
Em
primeiro lugar, fato que chamou atenção, foi a grande quantidade de presentes
no grupo. Como de costume, demos as boas-vindas aos novos participantes que
foram identificados por Rubens: Débora, Leonardo, Elder, Adriano e Lucas. Este,
aproveitando o momento, explicou um pouco sobre o grupo, sobre as atividades,
as redes sociais, os projetos de pesquisa e como costumamos agir. Também pediu,
publicamente que o integrante Leandro estivesse presente no próximo encontro,
pois seu texto, produção publicada, é que será debatido.
Também
foi apresentada a nova ideia de estrutura para os debates deste semestre: o
texto produzido por algum integrante do grupo, um livro referente ao assunto
para aqueles que desejam aprofundar-se no tema estudado, e um vídeo ou filme
como terceira opção. É importante ressaltar que nenhuma das três opções
precisam necessariamente estarem interligadas ou fazerem algum sentido entre
si. Aquele que optar pelo vídeo, não estará vendo-o como uma forma de entender
o texto publicado ou o livro escrito e vice e versa. Estes servem apenas como gatilho
para a discussão. Os textos escolhidos também foram uma forma de abordar os
quadros teóricos ou autores que o grupo costuma concentrar-se e que tem mais
familiaridade: Bauman, Foucault, Marcos Neira, Mário Nunes, Estudos Culturais,
Pós Estruturalismo, Pós Modernidade, etc.
1.
BORGES, C. C. O. Circulação de Saberes
Psi e Controle das Condutas em Currículos da Educação Física. (no prelo).
2.
HUNTER, I. Subjetividade e governo. In:
SILVA, Tomaz Tadeu (org.). Pedagogia dos Monstros: os prazeres e os perigos da
confusão de fronteiras. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.
3.
Opção em filme: “Foucault contra ele
mesmo”. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=FVKw8V-CgXk
Nosso colega
Clayton, iniciou o debate de forma bastante singular e diferente do que
havíamos feito no encontro passado. Falou um pouco sobre sua caminhada pelo
mestrado, sua primeira ideia de produção para os textos que viriam a seguir e
suas inspirações. A saber, no início de seu trabalho, o objetivo principal era “entender
quem seriam as pessoas que construiriam o documento curricular? Quais seriam as
pessoas que teriam autoridade para isso?”. Também dedicou grande parte da sua
introdução à exposição do principal teórico base do seu trabalho: Michel
Foucault.
Dedicou-se
também a expor alguns conceitos que foram utilizados no decorrer do trabalho.
Um deles, atributo central da obra foucaultiana “Arqueologia do Saber” para
entendermos o discurso: o enunciado.
“(...) mobilizando algumas estratégias
analíticas forjadas por Foucault, sobretudo em A arqueologia do saber,
este estudo é uma tentativa de examinar enunciados nos currículos investigados
que se apoiam, por sua vez, em uma prática discursiva específica – o discurso
curricular da Educação Física.” (BORGES,s/d, pág. 4)
O
que seria, de fato, o enunciado? Não é possível afirmar pois o próprio criador
do conceito define-o de várias formas diferentes, porém, para Clayton, é algo
que tenha uma função enunciativa, enquanto algo que deva fazer algum sentido,
não propositando fazer alusão à lógica, mas sim em relação aos significados. Ou
seja, quais os enunciados que significam o discurso saudável do documento, ou
psicomotor, ou o próprio professor de Educação Física enquanto um “docente”? O
que ele deve fazer, como deve fazer, para que ele mesmo faça sentido dentro dos
enunciados que o enquadram?
Utilizou-se
também da arqueologia, preocupado com as questões do saber,
diferente da genealogia, preocupada com as questões do poder. Deixou-nos claro
que o objetivo de Foucault era entender como as coisas da contemporaneidade
emergiram, não pensando em origem, como exatamente surgiu, mas quando algo
começou a ser falado, ou quando começou a circular. Ao identificar esses
propostos nas obras do autor, tenta trazer para a sua dissertação em relação à
produção do documento e a produção dos sujeitos. Sob o formato de uma
“micro-análise”, poderíamos dizer que a pesquisa sugere questões também como: onde
estaria dito que as aulas deveriam seguir de tal maneira, formar este tipo de
aluno ou aluna? Onde surge a forma de pensar como o professor deveria
prosseguir com as suas aulas?
Para que essa produção ocorresse, conta-nos
que deveria ter acesso aos documentos criados, aos anteriores, aos depoimentos
coletados e procurar descobrir quais os enunciados eram criados, quais os
discursos hegemônicos, quais saberes eram produzidos e etc., porém, não com o
objetivo de interpretar de forma definitiva tudo aquilo que ali estava escrito,
mas sim, tentar entender como determinadas ideias surgiram, de onde surgiram,
assim como fazia Foucault: seu interesse não projetava-se na ação mas, ao
contrário, no que tangia a realização daquela determinada ação – por que agir
de tal forma? Por que classificar de certa forma? Ou, então, quem teria o poder
para classificar as formas de se agir, como tinha por objetivo o início da
pesquisa.
De forma a
não chamar para si a autoridade sobre aquilo que estava escrito e que nos foi
compartilhado, ou então “binarizar”
entre comentários certos e errados, pediu para que abríssemos a discussão com
as impressões daqueles que haviam lido o texto.
Monique:
o desenvolvimentismo mostra-se separado do psicomotor ou
está tudo interligado?
Clayton:
a construção do currículo parece mais um mix de
propostas, como se o autor lavasse as mãos em relação aos que os professores
poderiam fazer ou não. Foram todas as propostas expostas e aqueles que se
identificarem mais com determinadas poderiam utilizar-se delas e o mesmo valia
para outras. Tudo parecia estar bastante misturado sem nenhum tipo de
discriminação ou apontamento sobre suas concordâncias e divergências, pelo
contrário, ao que parecia, aqueles saberes eram confirmados enquanto
verdadeiros.
Rubens:
reforça a importância do trabalho e da diferenciação que
ele faz de cada currículo que compõe a estrutura do documento analisado, pois,
em um exercício difícil de ser realizado, podemos identificar por quais
discursos somos subjetivados e tentarmos, se assim julgarmos necessário,
identificar potência de vida em outros discursos.
Wellington:
o discurso meritocrático, assim como é usado no esporte,
também pode ser usado no currículo saudável, pois tem total espaço para esse
tipo de intervenção.
Clayton:
concorda com a assertiva de Wellington e problematiza o
discurso saudável para os trabalhadores de baixa renda, por exemplo.
João: com
essa pesquisa, o que esperava do documento, o que achou que teria e qual seria
a sua contribuição para ele?
Clayton:
explica que é adepto de determinadas visões e concepções para a educação,
Educação Física e para a vida. Logo, tendo a oportunidade de contribuir para a
criação do currículo, tentaria construir a validação dos saberes que ele acessa
discursivamente.
Vitor:
é dito, em “A ordem do discurso”, que este não pode
circular livremente, em qualquer lugar, sob qualquer hipótese ou por qualquer
pessoa. Da parte daqueles que contribuíram para a construção, ou que foram
entrevistados, foi visto que sua prática enquanto ação, difere da sua prática
discursiva?
Clayton:
acredita que assim como os discursos são hibridizados, a prática também não
será “pura”. É de difícil explanação a prática de cada um, porém, talvez não
esteja tão distante prática e discurso.
Caminhando para o final do
debate, foi levantada a dúvida: existe a hibridização “identidária” curricular, da qual falamos incessantemente, base de
tantas produções, ou podemos entender como uma problemática da diferença pura,
onde o sujeito assimila e produz alguma forma do seu próprio jeito?
Contudo, ao meu ver, a ideia
que mais me chama a atenção: não há uma proposta central. Entre esquerda,
direita, centro, o que há são governos de condutas. Como bem lembrado pelo
companheiro Clayton, a “educação”, passa pelo governo, ou vice e versa: governo
de corpos, mentes, convicções – sua sugestão é a de um “governo sutil”. No
momento, compartilho desta ideia.
Encerrada a discussão,
Rubens recomenda para aqueles que tiveram interesse no assunto não começarem
diretamente por Foucault, pois são livros complexos, com quantidades
expressivas de páginas e de difícil entendimento, mas sim, por artigos e livros
introdutórios. Contudo, para os mais curiosos, que ignorarão as palavras ditas
e documentadas aqui, recomendo o vídeo a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=dpn1JL15AXA&t=2s
Lembramos que a participação
de todos e todas é muito importante para a construção do caminho teórico do
grupo, não podemos abrir para os mais diversos temas devido ao espaço curto de
tempo, mas procuraremos sempre acatar as opiniões daqueles que se sentirem à
vontade para opinar.
Foi sugerido pelo
companheiro Clayton o vídeo a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=3eQgOy_5Ibg.
Foi sugerido também por
Rubens o seu canal no YouTube, onde são tratados os mais diversos temas: https://www.youtube.com/user/rubensAgurgel/featured.
Aproveitando o gancho e
essas novas propostas criadas no grupo sobre vídeos e filmes, eu, João,
recomendo, para aqueles que tiverem interesse, a procura por um diretor de
filmes chamado Gaspar Noé. Ao ter o primeiro contato com seu filme
“Irreversível”, constatei uma forma bastante diferente de produção da arte
cinematográfica, com histórias não lineares e câmeras dinâmicas. Talvez valha o
conhecimento da diferença em diversas áreas que possam produzir potência.
Fomos incentivados à
participação nos próximos congressos que virão como uma forma de crescimento
pessoal, para o incremento de currículo para quem deseja vida acadêmica e para
a socialização daqueles que viajam. Temos por objetivo o SEMEF E CONFEP ainda
esse ano para os interessados.
Por fim, Rubens sugere como
forma de participação e consideração com o autor, a leitura dos textos do dia e
possíveis críticas. Apreciamos bastante a “porradaria”
em detrimento de apenas elogios das produções realizadas.
Contamos com a presença de
todos e todas para os próximos encontros! Até 30/09 com o texto do Leandro!