terça-feira, 24 de outubro de 2017

21-10-2017 Cultura, Estudos Culturais e Educação Física

No dia 21 de outubro, estivemos reunidos na ACM Jd. São Paulo para mais um encontro do GEPEF/FEFISO, e o sequente debate do texto “Cultura e Educação Física escolar”. Eu, João Pedro, realizo a transcrição das atividades e discussões do grupo neste referido dia.
O grupo contou com um número um pouco reduzido de participantes do que o esperado rotineiramente: acreditamos que pela mudança de local e pelo Sábado chuvoso. No entanto, tivemos a primeira participação de Gabriela do primeiro período da manhã.
Logo de início, Rubens comentou sobre os processos de mestrado e ressaltou a importância para os presentes que tinham interesse em algum processo seletivo para essa modalidade de pós-graduação. Foi lembrado do nosso “convênio” com o GPEF/USP e a afinidade de nossos temas com o grupo de São Paulo. Neste Sábado, nosso encontro teve um formato um pouco diferente, já que o grupo precisava ocorrer no mesmo polo que aconteceriam os jogos interclasses da faculdade e Rubens necessitaria se ausentar por 1 hora do encontro, deixando a apresentação do texto, que era de minha autoria, e a “condução” da discussão sob nossa responsabilidade. Por isso, vale ressaltar que essa ata terá também um formato um pouco diferente, tendo um aprofundamento das discussões um pouco reduzido devido à falta de algumas anotações que eu normalmente faria se não estivesse conduzindo a apresentação do texto: para a escrita deste texto, recorro apenas as minhas memórias e algumas anotações que tive durante as conversas e anteriormente a elas.

“- LOPES, J. P. G.; VIEIRA, R. A. G. Cultura e Educação Física Escolar. Revista Brasileira de Educação Física Escolar, Ano II, V1 - Jul. 2016.
- NEIRA, M. G.; NUNES, M. L. F. Contribuições dos Estudos Culturais para o Currículo da Educação Física. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, vol.33, n.3, Porto Alegre, Julho/Setembro, 2011.
- Opção em vídeo: “Cidadão Kane” – Disponível em: http://filmescult.com.br/cidadao-kane-1941/ 
- “Além do Cidadão Kane” – Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=049U7TjOjSA&t=148s

A dinâmica tinha o intento de ser outra das que já tinham sido aplicadas: a primeira ideia era de que @s companheir@s trouxessem suas interpretações, impressões, dúvidas e etc.; a segunda ideia era de que tudo isso fosse comentado e as dúvidas fossem tratadas da seguinte forma: se não houvesse linkagem com o texto, seriam respondidas de imediato; se houvesse linkagem com o texto, seria comentada no decorrer da exposição; se não houvesse resposta, perguntaríamos ao Rubens, que havia se ausentado para este início em decorrência do interclasses.
De início, o companheiro Leo contribuiu com alguns comentários e questões que foram debatidas antes do início do texto e que serão elencados aqui de maneira bastante objetiva:
·         Sobre a sua impressão de que o multiculturalismo possa agregar as aulas de maneira a evitar a constância das aulas que apenas “rolam a bola” ou que as crianças entrem, desenvolvam algo sem significado e voltem para as suas aulas.
·         As aulas poderiam estar embasadas na cultura local de determinada região onde a escola se localiza? – Sim, a aula pode estar baseada na cultura local e é justamente essa a proposta do Currículo Pós Crítico cunhado por Neira e Nunes (2009)[1], o qual é bastante diferente do tradicionalismo que já conhecemos e que exige um aprofundamento e apropriação bastante grandes.
·         Com o conhecimento e desenvolvimento disso, eu, como professor, qual a minha ideia de aula e como eu desenvolvo isso? – Divido em duas respostas diferentes: como professor do ensino básico e médio não tive uma experiência satisfatória da minha prática e logo, por opção própria, decidi por recusar as minhas aulas. Sobre o que eu penso d@s professor@s e d@s alun@s em aula, a resposta divide-se também entre os dois: em primeiro lugar, ao recusar as aulas escolares práticas, permaneço fora do escopo para opinar sobre como a prática deveria ser ou deixar de ser, no entanto, acredito que ambos, professor@s e alun@s, devam encontrar significados positivos em suas práticas, e isso pode ser alcançado com todos os diferentes currículos já utilizados, não só o Pós Crítico.

A companheira Eliza também contribuiu com alguns comentários e perguntas diretas, dentre elas, exponho uma, a qual considero que foi melhor explorada:

·         Como se dá a escolha dos autores base e como identificar os antagonismos presentes nas visões da cada um? – A escolha dos autores bases deu-se mediante a participação do grupo e a leitura dos primeiros textos que falavam sobre “o que era a Educação Física”. A posterior exploração do quadro teórico e a exposição ou não de suas visões e teorias antagônicas só se dá mediante a leitura e o conhecimento de diferentes autores, o que leva tempo, pressupõe diferentes leituras, participação de debates e conversas. Vale lembrar que, ao publicar esse artigo, tivemos a preocupação de “refinar” o quadro teórico com o menor contraste possível em relação aos autores. No entanto, ao escrever o meu TCC (de onde originou-se a publicação), também utilizei autores que “não conversavam” entendendo que estaria acrescentando ao meu referencial teórico: apenas com todos esses processos e no decorrer do tempo pude ir diferenciando.
Sobre a apresentação do artigo, teci alguns comentários de anotações que havia feito antes do encontro acreditando que poderiam servir de conversa esclarecedora com aquel@s que leram e não leram o texto. Como dito acima, a escolha dos autores deu-se através das leituras do grupo em seus primeiros encontros que debatiam sobre o “que era, afinal, Educação Física”. O não consenso dos autores sobre o tema me chamou a atenção e apontei o estudo para esta vertente. Ao meu ver, o que poderia estar influenciando esta distinção da Educação Física já que ela não era igual e nenhum lugar? Cheguei ao argumento da cultura e, logo, enveredei o estudo para a relação entre as duas áreas: cultura e Educação Física.
Comentei que a ideia não seria realizar um traçado histórico sobre os termos, mas que apresentaria muito brevemente as duas, fazendo apenas as relações fundamentais do texto. Para tanto, apresentei quatro livros bases para a construção do artigo e para as discussões do grupo para aquel@s que tenham interesse em dar prosseguimento ao assunto:
·         Educação Física, currículo e cultura – Marcos Garcia Neira e Mario Luiz Ferrari Nunes
·         A Noção de cultura nas ciências sociais – Denys Cuchê
·         Documentos de identidade: uma introdução às teorias de currículo – Tomaz Tadeu da Silva
·         Educação Física progressista – Paulo Ghiraldelli
Ao abordar o primeiro termo que seria o da cultura, exponho algumas de suas interpretações e momentos passados para o seu sentido polifônico hoje: passamos pela sua etimologia, pelo seu sentido francês, seu sentido alemão, antropológico e dos Estudos Culturais. Reforcei que acredito ter cometido um erro no trabalho – a exposição desses conceitos favorecendo o entendimento de forma evolutiva e em escala de se alcançar o “verdadeiro sentido”. É importante lembrar que todos eles existem, todos são entendimentos e, talvez, o sentido francês ainda seja muito mais utilizado apesar de ser o primeiro sentido dado à cultura fora do cultivo e desenvolvimento dentro da agricultura, a primeira relação entre cultura e civilização e seu status “culto ou inculto”, bastante criticado pelas outras apropriações, principalmente a dos Estudos Culturais.
Ao definir a cultura para os Estudos Culturais como uma disputa dentro das relações de poder pela validação discursiva da própria cultura (e essa discussão pode ser vista na relação exposta pela Sarah e os sapatos que um educador físico deveria usar ou não), procuramos explorar essas relações dentro da Educação Física escolar e do seu currículo. Se é que seria possível “tabelar” esse tipo de relação, tentarei mostrar a ideia do artigo dentro da tabela abaixo como forma de resenha.

Currículo Higienista
Ascenção do Capitalismo; Inchaço populacional; Doenças proliferadas.
Militarismo
Ascenção dos militares sobre as oligarquias rurais; Era Vargas.
Escola Nova
Queda de vargas e dos militares; Manifesto dos pioneiros da educação nova
Esportivismo
Nova tomada de poder dos militares no formato de ditadura; esporte como espelho de um país desenvolvido.
Psicomotricidade e Desenvolvimentismo
Queda dos militares; Novos estudos biológicos e psicológicos.
Educação Crítica
Aumento da influência dos teóricos marxistas; ideais modernos ainda bastante presentes
Educação Pós Crítica
Aumento da influência de teóricos “pós”: marxistas, estruturalistas, coloniais, modernos, os multiculturalistas e etc.

Perto do final, retomei uma discussão já conhecida pelos integrantes do grupo, expondo o porquê de acreditar que seja um terreno fértil para novas pesquisas e suas possíveis implicações culturais e como isso pode mudar drasticamente tudo o que conhecemos por educação e Educação Física, seguindo as dicas históricas que absorvemos com o desenvolvimento dessa pesquisa: as novas tecnologias da informação; internet; cibercultura; ciborgues e etc. Para todos àquel@s que se interessarem por esse tipo de pesquisa, estamos abert@s para novas conversas e possíveis produções.
Agradecemos por mais um encontro, e esperamos tod@s para o último encontro do grupo que, como é de praxe fazemos nossa confraternização, abrimos espaço para apresentações e aproveitamos um café da manhã diferente! Até o próximo, GEPEF!




[1] NEIRA, Marcos Garcia, 1967- Educação Física, currículo e cultura / NEIRA, Marcos Garcia; NUNES, Mario Luiz Ferrari. São Paulo: Phorte, 2009. 288 pág.

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