terça-feira, 12 de dezembro de 2017

09/12 Encerramento 2 sem 2017 - Texto Matrix

No dia 09/12 estivemos reunidos para o último encontro desse semestre com o intuito de discutir o texto recentemente aprovado dos companheiros Moska, Clayton e Rubens. Eu, João Pedro, redijo essa ata. Devo dizer que essa reunião foi de especial dificuldade em relação à escrita desta, pois não seguimos uma linha de raciocínio “com clareza” e diferentes conceitos foram expostos para a melhor compreensão do texto. Diferentemente das outras já escritas neste semestre, tentarei me ater tanto ao que foi falado, como também sobre as minhas impressões e interpretações do debate no dia e em relação ao texto. Portanto, advirto que todos os pontos aqui elencados fazem parte, estritamente, da minha visão de descrição do encontro.

·         BORGES, C. C. de O.; VIEIRA, R. A. G.; CASTRO, V. Pensar a contemporaneidade de outros modos: contribuições da perspectiva foucaultiana e deleuze-guatarriana.
·         Opção em vídeo: Curta Modernidade Revolutions. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=J4ND1ks3tfA

Rubens iniciou falando sobre um dos objetivos do grupo: a preparação e o comprometimento do grupo em ajudar para o ingresso no mestrado (com revisão de projeto; orientações sobre o tema; quais linhas e universidades se encaixam melhor naquilo que @ candidat@ se interessar e etc.). Também apontou um caminho fértil para cada um que queira seguir por essa área. Lembrando que essa é apenas a exposição de uma possibilidade com base naquilo que @s integrantes se mostram interessados, não é, de forma alguma, a única alternativa. A saber:
Leandro: Estudos Culturais e a sua possibilidade de articulação com o Hip Hop, tema já de seus trabalhos anteriores.
Vinicius: Cibercultura e a sua articulação com os games e a realidade escolar.
Wellington: Já tem um projeto completo, o qual caberia na linha 3 da UFSCar, ou no GEPEFE, grupo de estudos da Universidade de SP (USP), liderado por Marcos Garcia e Mario Nunes.
Moska: Será coagido a inscrever-se nos próximos processos seletivos.
Entrando propriamente no tema do texto Rubens apresentou as ideias dos escritos e de onde vieram as inspirações. É sabido que o insight para a sua construção teve seu início com o companheiro Moska que percebeu na trilogia Matrix uma possibilidade de articulação com temas velhos conhecidos nossos, mas nem por isso muito claros em nosso pensamento: pós-modernidade; pós-estruturalismo; identidade e diferença e etc. Ao meu ver, toda a nossa discussão girou em torno da explicação desses conceitos que, claro, não podem ser completamente abordados em anos de carreira acadêmica, quem dirá em duas horas de reunião.
Para tanto, farei um exercício (que pode ser chamado de esboço) onde tentarei, de forma muito simples, em poucas linhas, dentro do meu entendimento, abordar sinteticamente estes conceitos.
Comentário de início: uma coisa que precisa estar clara em nossa mente ao adentrarmos este campo é que, dificilmente, um autor considerar-se-á um pós-moderno ou um pós-estruturalista. Seus livros não começarão com o subtítulo de “este é um texto pós-moderno”. O movimento que é feito é o de aproximação de suas ideias com o contexto pós-moderno, por exemplo: “Tal autor é considerado um pós-moderno”.
Contudo, essas respostas, aproximações, linkamentos, muitas vezes não são feitos de forma clara; ainda por cima, o autor pode ser considerado em fases diferentes como é o caso de Foucault, que é considerado um estruturalista no início de seu trabalho e um pós-estruturalista no final (e rejeitador de qualquer um desses enquadramentos) o que acaba dificultando qualquer tipo de divisão.
O mesmo acontece com outros campos: Estudos Culturais, deleuzeanos, “ciberculturalianos” (para citar referências do grupo) – nenhum virá com legenda. Como saber de onde derivam, então? Só o tempo de leitura, acompanhamento, e reconhecimento de conceitos comuns ou criados lhe trará uma escassa clareza. Talvez pareça um pouco complicado, mas é um movimento mais natural do que se imagina.
Pós-modernidade: ao meu ver, esse movimento, independentemente da área em que esteja situado (filosofia, artes plásticas, cinema, literatura), tem como característica principal o questionamento das metanarrativas (LYOTARD, 1979). Por esse termo, dentro deste esboço, entende-se qualquer explicação que tente dar conta do todo, propor um universal.
Autores modernos de diversas áreas inclinavam-se seriamente à possibilidade de pensar o todo: o sujeito, a educação, as leis, etc. Suas teorias tinham como característica, se abordadas as leis, por exemplo, de criar metanarrativas em relação a estas e contribuir para a construção última de uma constituição que regesse a todos os homens e mulheres de todos os lugares.
No entanto, o que fazia com que agissem com tamanha pretensão? Pelo fato de estarem confiantes na capacidade racional do ser; por entenderem a história de forma linear, ou seja, quanto mais tempo passa, mais evoluímos; por acreditarem que como “civilização pensante”, “tecnológica”, localizavam-se em estágio mais evoluído do que outras; e outros motivos.
Nietzsche, o possível, e considerado com cautela, precursor do pensamento pós-moderno, em seus escritos colocava em dúvida essa grande verdade esperada. Ao não aplicarmos as grandes verdades, as grandes metanarrativas sobre esses assuntos citados acima, temos a dimensão sobre o quão importante torna-se a teorização pós-moderna que procura não se apoiar em argumentações com fins últimos: e por isso pós-moderna. O que não inflige em relação de superação, mas localização diferente na geografia do pensamento. Seria um tiro no pé dizer que o pós-moderno superou o moderno. Superou por quê? Aproximou-se mais da verdade última?
Pós-estruturalismo: não há uma definição categórica. Diferentemente do “pós-moderno”, se perguntarem-me uma definição de pós-estruturalismo não saberei dizer. No entanto, vou utilizar do exemplo dado no encontro para tentar situar o que é, ao meu ver, essa corrente teórica. Foi dito que um dos argumentos de oposição ao pós-modernismo seria: “proponha para um pós-moderno que se jogue em frente a um ônibus em movimento para ver o que acontece com a sua dúvida sobre a existência da realidade”.
Acredito que aqui esteja uma característica chave do pós-estruturalismo: a desconstrução. Não se trata da dúvida sobre a realidade material, tampouco se o ônibus existe em matéria física ou não. O questionamento é em relação a contingência do conhecimento, as relações de poder que orientam, os vetores de força que constituem o discurso de que aquilo seria um ônibus.
Em outras palavras, duvida-se de uma essencialidade de qualquer objeto, uma cadeira por exemplo, que possa afirmar que aquilo é de fato, em verdade única, em realidade, uma cadeira. São considerados as relações de poder constituidoras dos discursos que validam o conhecimento sobre algo ser uma cadeira: prega-se a separação entre signo, significado e significante.
Desse ponto de vista, a “realidade verdadeira e última” nunca é alcançada e disso a dúvida sobre um dia alcançarmos qualquer “realidade”. Foucault escreveu sobre a arbitrariedade dos conhecimentos em relação ao louco – um místico, um portador de conhecimentos esotéricos, algo que deve ser excluído, preso, tratado, etc. Escreveu sobre a possibilidade de construção do sujeito e anunciou “o fim do homem” como o conhecemos, sugerindo suas inevitáveis novas perspectivas. Por promover esse tipo de desconstrução e, claro, outros motivos, é considerado um autor pós-estruturalista.
Identidade e diferença: para essa exploração, tentarei me ater, muito brevemente, dentro da perspectiva dos Estudos Culturais. Na minha leitura, a identidade pode ser vista em relação à dois processos não isolados: “identificação” e “identidade validada”. A identificação está relacionada ao sujeito que se identifica com um determinado grupo, discurso de um determinado grupo, atitudes de um determinado grupo e assim por diante. A identidade validada é, dentro das relações discursivas e de poder, aquele grupo que possui a validação. A identidade só pode ser pensada em grupo, pois determinado grupo deve ser validado, ou identificamo-nos com determinados grupos. Atualmente e dentro de um pensamento conservador, qual seria a “identidade validada”? O branco, o macho, o heterossexual, o cabelo liso, etc. Podem ocorrer “identificações” com essa identidade? Sim, claro! Podem não haver identificações com essa identidade? Sim, claro! Dentro desse contexto de não-identificação é que se entende a diferença: aquilo que escapa à norma. Quando “diferença” for usada nesses termos conceituais é, ao meu ver, em relação ao que escapa à identidade.  Quando foi citado que o movimento homossexual tenta, de certa forma e também não enfraquecendo a luta pelo reconhecimento, se equiparar a identidade em relação ao casamento, é porque o casamento monogâmico, regido por um padre ou um pastor, faz parte da “identidade validada”. Poderíamos apenas não casarmos. Mas seríamos diferença.
Contemporaneidade: considerado o período atual, iniciado após a revolução francesa de 1789 – válido para o Ocidente.
Michel Foucault (1926-84), Gilles Deleuze (1925-85) e Felix Guatarri (1930-1992): filósofos franceses contemporâneos. Recentes pesquisas realizadas por alguns membros do grupo são provindas de suas inspirações. Deleuze e Guatarri mantiveram uma parceria em consideráveis produções de suas obras.
Estudos Culturais: a origem de um centro com esse nome (Centro de Estudos Culturais Contemporâneos) ocorreu na Inglaterra por volta dos anos 1960, apesar de sua fundação estar inspirada em produções realizadas por volta de 1950. Stuart Hall (1932-2014), teórico fundamental para o GEPEF, assume sua liderança em 1969. Seus (e outros) estudos sobre cultura, virada linguística, identidade e diferença, influenciam profundamente nossas produções.
Perto do final, discutimos sobre as possibilidades de leituras e novas contribuições para o semestre que vem. Listo aqui as contribuições oferecidas:
·         Leandro: para as férias, a leitura do livro Documentos de identidade – Tomaz Tadeu da Silva.
·         João: aprofundamento em um quadro teórico, ou conceitos de um teórico.
·         Rubens: continuarmos com as análises da produção do grupo e convidar pessoas que não participam do GEPEF para que possam contribuir com suas áreas de pesquisa.
·         Clayton: acha interessante a possibilidade de chamar pessoas que não participam do grupo.
·         Vinicius: disponibilização de textos base para a compreensão de alguns conceitos aqui esboçados e outros.
Antigamente, terminávamos com uma frase motivacional do companheiro Moska. Dessa vez o apelo será um pouco menos emocional e mais sugestivo. Para terminarmos o semestre, a sugestão é de que assistamos o vídeo abaixo e possamos contra-argumentar algumas proposições de Newton Duarte: autor que alega abertamente contra a pós-modernidade. Mas, claro, aos que não quiserem posicionar-se de maneira oposta, mas sim concordar, firmo aqui o meu apoio e incentivo! São deixadas algumas sugestões do autor para que possamos refletir.

 - Impossibilidade de superação da sociedade capitalista pela perspectiva socialista.
 - O pós-modernismo contribui para acreditar que acabou a história, não superaremos o capitalismo.

Por fim, desejo a tod@s um feliz natal, próspero ano novo, e que possamos voltar no semestre que vem para continuarmos construindo um GEPEF cada mais forte!!