domingo, 1 de novembro de 2015

17/10/2015 – Encontro com Lino Castellani Filho na FEFISO



A partir de uma visita do Prof. Lino à FEFISO, fizemos uma roda de perguntas ao autor após a leitura anterior de sua obra “Educação Física no Brasil, a história que não se conta”.

Iniciamos as questões conversando sobre o contexto de elaboração, sua passagem pela PUC para a realização do mestrado, e o circulo intelectual que se formou a partir dali, culminando com a obra de 1992 - Metodologia do Ensino de Educação Física.

No que diz respeito ao livro, o professor falou sobre as referências teóricas, que teve como pedra fundamental a obra de Demerval Saviani, e sobre as inspirações marxistas. Também foi questionada a presença de Foucault no livro, bem como as referências à luta das mulheres por igualdade, que o professor respondeu dizendo que limitar a luta da opressão às classes sociais é uma leitura equivocada do marxismo, pois o foco é a questão do gênero humano e a luta contra toda opressão.

Sobre outra obra importante para a Educação Física do qual Lino foi co-autor, o livro Metodologia do Ensino de Educação Física, discorreu sobre o ambiente de criação e sobre o trabalho de reeditar o título. Como curiosidade, falou sobre o nome da perspectiva curricular, afirmando que o nome crítico-superador se devia à necessidade de superar o entrave entre as perspectivas savianistas em freireanas muito forte no campo da educação naquele momento histórico.

Falamos sobre o surgimento do sistema CONFEF, as lutas políticas e os interesses envolvidos, principalmente no momento atual.

Outro tema que apareceu foi o papel do CBCE e CONBRACE, o fluxo de poder da instituição e a movimentação recente. O professor pensa o espaço do CBCE como instância formativa que não pode adentrar a lógica de mercado.

Quanto à crise que assola o marxismo, especialmente após a queda do leste europeu socialista, o professor disse que o pensamento crítico é considerado anacrônico, entretanto ainda oferece boas respostas para os dilemas atuais. Criticou o pós-modernismo como um movimento que desconsidera a educação crítica e diminui a força da luta contra a opressão.

Além do mais, a teoria crítica na EF Escolar não teria ganho mais força muito em parte devido a impossibilidades políticas, e não por suas composições teóricas. Para adentrar mais profundamente na questão do pós-modernismo, indicou o professor Edson Marcelo Hungaro (UnB) e para a questão da Educação Física crítica o grupo do professor Marcilio Souza Junior (UFPE).

Respondendo a questão (enviada virtualmente) pelo professor Marcos Garcia Neira (FEUSP), sobre o que acrescentaria ao livro atualmente, o professor Lino disse que não vê motivos para adentrar novamente a obra, mas se fosse para continuar a sua escrita abordaria a questão do sistema CONFEF e, principalmente, as questões relacionadas aos grandes eventos esportivos que dominam o contexto nacional nos últimos tempos.

Por fim, a conversa excedeu os limites da Educação Física e o professor discorreu sobre a crise política contemporânea. Como militante e partidário do PT, o professor disse que parte da crise política se deve a reserva moral que o PT perdeu ao praticar medidas semelhantes aos partidos que costumava criticar, esvanecendo uma luta contra interesses empresariais e conservadores, fortalecendo um contexto de contragolpe dos setores privilegiados.

A situação é tão delicada que documentos considerados em seu momento histórico como insuficientes para a democracia plena, como a constituição e a LDB, hoje precisam ser resguardados do ataque conservador.

Neste contexto de atuação política, o professor também relatou suas experiências como assessor da Secretaria de Esportes da cidade de São Paulo, bem como sua participação no Ministério Federal do Esporte, articulando suas ideias sociais com as relações políticas institucionais.

No que pese algumas posições que alguns membros do grupo discordam, foi unanimidade entre nós a humildade, simpatia e generosidade do professor, que não pensou duas vezes em doar o seu tempo para bater papo conosco.

Esperando que este breve texto faça alguma justiça às mais de três horas em que compartilhou seu conhecimento, o GEPEF/FEFISO agradece imensamente ao professor Lino Castellani Filho!





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