quarta-feira, 4 de março de 2020

1º encontro – 29/02/2020 – Palestra de Rubens Gurgel – Educação menor, Aprendizagem Inventiva e Educação Física







Demos início ao encontro às 9:00 do sábado, dia 29 de fevereiro de 2020, na FEFISO. Como tradição e pela presença de novas pessoas ao grupo, sendo elas, uma parte de alunos/as do primeiro semestre da FEFISO e outros de fora, Rubens coordenador do grupo, fez uma introdução, explicou o porquê o grupo e existe e qual a sua função. Com isso, apontou que a partir deste semestre o grupo criou outro modo de operar, isto é, no semestre passado a leitura dos textos estava bastante densa e difícil, assim, foi decidido coletivamente experimentar nesse semestre uma forma de palestra. Surgindo assim espaço para convidar pessoas de fora, de outras áreas e expandir nosso pensamento.
Realizada a introdução, Rubens expos os temas que sua pesquisa de doutorado tratou, e enunciou alguns pontos fulcrais que seriam abordados no encontro de hoje. Dentre eles, o contato dele com a Educação Física (em sua formação), a história da Educação Física e seus momentos, por essa chave de pensamento, ele decidiu ver a partir de três autores centrais, Michel Foucault, Gilles Deleuze e Félix Guattari. Urge anunciar também, que dentre um escopo de pensamento, eles são classificados enquanto autores pós-críticos, entretanto, Rubens aponta os conflitos e, diz que é clássico da academia americana esse movimento de classificação.
Dito isso, mergulhamos em outros meios, demarcando algumas características do pensamento moderno. Para tanto, Rubens relatou cinco polos: realidade, razão (pensamento), sujeito, corpo e poder. Nesse modo moderno de se pensar a realidade é entendida como a representação do real, e tendo apenas uma realidade para todos. O pensamento neste viés é obtido através da razão, isto é, o pensamento é sempre racional, logo superior a outras coisas, abrindo brecha para conectarmos o sujeito e corpo também, pois, o sujeito é um ser que age pela razão, e é por meio do corpo que se manifesta. Vemos aqui, fortes influências platônicas, kantianas da razão e cartesiana, típicas das características modernas. E por último, porém não menos importante, o poder dentro desse escopo é exercido apenas pelo Estado.
Para o referencial, pós-crítico ou melhor para Filosofia da Diferença, há discordâncias plausíveis em relação ao modo de funcionamento moderno, citado acima. Realidade, pensamento, sujeito, corpo e poder possuem assim outros significados, passemos a observá-los aqui, não de uma forma segmentada, e sim a partir de lógica rizomática, que promove conexões. Sujeito nessa perspectiva é construído em conjunto a realidade e pensamento, sempre em processo constante, ou seja, não têm mais nada acabado ou dado (pensado) de antemão. Logo, o corpo é o local para a criação do pensando, que está imerso na realidade. E o poder está sempre em todas as relações, nesse sentido, o poder é entendido através da micropolítica, nas microrrelações e em certos momentos exercemos mais ou menos poder.
Com isso, entramos em outro ponto, com o conceito de menor, para entender sobre a Educação Menor. Rubens explica que Silvio Gallo (professor e pesquisador da UNICAMP) desloca do conceito de Literatura Menor a partir da obra dos franceses Deleuze-Guattari, para pensar em uma educação menor. Por essa via, foi apresentado três características do menor, sendo elas: desterritorialização da Língua; ramificação do individual no imediato-político; agenciamento coletivo de enunciação (somos e pensamos não o que queremos ser, mas ao que somos agenciados). Formulamos exemplos a partir disso.
 Entramos na história da Educação Física e seus momentos, atentos com o pensamento moderno e das filosofias da diferença e os usos do maior e menor, contudo, no intento de escapar de uma dialética, e caminhar com a lógica da multiplicidade, do mais, do e, e. Foi feito relações também com os currículos da Educação Física: Ginástico, esportivista, críticos e cultura (pós-crítico?). A grande questão que surgiu em todos os currículos foi que, sempre existe um modelo à ser seguido, pela filosofia da diferença, vemos isso enquanto uma ferramenta provisória para ajudar a operar.
Uma das partes da tese, teve como objetivo investigar os aspectos maiores do currículo cultural, baseado no referencial pós-crítico, e que foi objeto da pesquisa de doutorado. Vimos como movimentos aberrantes: a inserção em currículos oficiais; modelização didática; apoio a filosofias da diversidade: limites do multiculturalismo; baseado em pensamentos psicanalíticos: os limites dos estudos culturais. Todavia, não é toma-los como inimigos, apenas uma forma de apontar os limites para pensar em outras coisas.
Rumando ao final do encontro, vimos que a esquizoanálise a partir de Deleze-Guattari nos convida ao viver, ao experimentar. Assim, a grande criação da tese foi pensar em outros modos de se entender a aprendizagem, Rubens cria pistas da aprendizagem e princípios didáticos, dando nome a essa “gestação” de esquizoaprender. Vale a ressalva que o termo princípios é utilizado no sentido de onde partimos, e não que há uma ordem sistematizada a ser reproduzida. Abaixo está registrado algumas das pistas e princípios que discutimos, foi diversos exemplos, e como movimento de criação, foi feito o convite para cada pessoa pensar em seu próprio exemplo.

Pistas da aprendizagem:
- o aprender na filosofia da diferença: recognição x criação;
- Transformação de subjetividade – tornar-se outros, campo da multiplicidade;
- Processo intuitivo;
- Esquizoaprender, política cognitiva sensória-corporal;
- Processo de agenciamento incontrolável, atravessado pelos encontros, movimentos rizomáticos;
- Invenção de problemas, não resolução de respostas;
- Demanda gastar tempo / esforço;
- Processo de singularização, imanente ao acontecimento;
- Aprender é afirmação de vida;
- Para os dias atuais: atravessamentos cibernéticos!

Princípios didáticos
- o professor “tracer”;
- Sensibilidade ao devir;
- Atenção às misérias;
- Modulação do controle;
- Experimentar e organizar encontros;
- Tencionar a produção de singularidades;
- Associar com outras paixões;
- Dar aulas sobre o que busca aprender;
- Cartografar a possibilidade do desejo esquizo;
- Não se apaixonar pelo poder;
- Articular micro e macro política;
- Produzir tempo e espaço liso;

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