terça-feira, 2 de outubro de 2018

22-09-2018 KASTRUP, Virginia. Aprendizagem, arte e invenção


Boas Vindas para Eduarda Medeiros (6 período), Maria Clara (1 período) e Midori (1 período).

TEXTO: KASTRUP, Virginia. Aprendizagem, arte e invenção. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 6, n. 1, p. 17-27, jan./jun. 2001
                                                                                                                                                                    
Reunimo-nos no sábado dia 22 de Setembro de 2018, inicia a fala com o responsável pelo texto do dia Cleyton, aclarando que em seu resumo deixou uma provocação “em sua percepção, ao habitar o território do grupo de estudos, ocorre aprendizagem inventiva? Em caso afirmativo, traga-nos exemplos de como isso vem ocorrendo” e diz que a autora aclara do ”não saber para o saber” e dando continuidade com a grande complexidade do texto com relação a compreensão. Abrindo assim para que cada um dissesse a percepção individual sobre o texto, e a Maria Clara falou sobre o link com o curso, o como nos somos temporais e Elder continua dizendo que em momento somos um, são mudanças constantes.
Quanto a aprendizagem Eduarda diz sobre o seu TCC e que vem de uma construção de mundo. Todo esse processo está na criação de singularidades que em conjunto aborda a multiplicidade, mas o grande choque já que em prática vem com a imposição de recognições para a pessoa, a receita infalível, o que eu quero transmitir e não criação de cada um através do compartilhamento informacional. E Gabi, diz sobre o estranhamento que desencadeia a aprendizagem, que a interpretação vem a seu jeito, a formação do signo, toda a ação está vinculada a essa leitura de signos, com as vivências de diferentes signos existentes.
O que faz sentido, significado e é para si.  Sendo assim, Eliza da exemplo de um curso de teatro no qual o professor mencionava do não pensar e sim deixa estar o que te afeta e completa Clayton, plano de imanência, se remete a algo do objeto, como a autora da exemplo do cozinhar que vem das experimentações. Assim, Rubens relacionando com os estudos culturais, o ver no racional “os signos se organizam em diferentes sistemas, entre os quais se encontra a linguagem. Afirma que aprender é considerar uma matéria ou um objeto como se estes emitissem signos a serem decifrados” e Deleuze vai além, no inconsciente, não tem lógico e acontece pelos encontros.
O saber interpretar os signos que naquele meio esta inserida, imerso, não é da razão e sim um encontro que esta nos fluxos, uma leitura do que é a aprendizagem – o aprender sem pensar. Mais “Aprender marcenaria é ser sensível aos signos da madeira; aprender medicina é ser sensível aos signos da doença; aprender a cozinhar é ser sensível aos odores, às cores, às texturas dos ingredientes da comida; aprender a jogar futebol é ser sensível aos signos da bola, do campo, da torcida, dos jogadores. Poderíamos multiplicar os exemplos, mas no momento basta sublinhar que tudo que nos ensina alguma coisa emite signos, e não se aprende senão por decifração e interpretação. Segundo Deleuze, o signo é aquilo que exerce sobre a subjetividade uma ação direta, sem a mediação da representação” e Welinton diz, habitar um território conhecido e aquele que não é conhecido, sendo assim o ambiente que se encontra um problema, é essa ação que esta na da aprendizagem.
Complementando Clayton menciona, a autora diz de uma aprendizagem com o enfrentamento do problema e esse lançar no desconhecido vem a ser a aprendizagem inventiva, quando utiliza o habita para Deleuze vem com a ferramenta para que haja essa aprendizagem. Para uma melhor compreensão de alguns conceitos Rubens diz que para entender a recognição, o reconhecer e se eu estou nesse campo não há problema, “aprender é a experiência”. A diferença existente entre recognição (a faculdade converge, fluidez na vida) e a problematização (síntese diverge das faculdade, caos na vida social), por exemplo o grupo está em uma recognição o tentar entender o texto e quanto a problematização, vem o questionar a pedagogia no como ensinar, que tabula o certo e o errado, pois aborda o para fora, disso o problema e as interpretações de cada um.
Rubens diz “o professor não é o centro” e Clayton, quando ela aborda a arte como a que mais vem saindo do padrão, do controle existente. A inteligência é uma faculdade que trabalha na aprendizagem, a inteligência quente como a arte e a recognição, é o controle, o professor dizendo como deve ser, a resposta da equação, mas a auto criação não é incentivada e pelo contrário a educação tenta nos frear. Mas não pode haver o relativismo, mas outros olhos e visões onde há subjetividade, sendo o território a mente o que você domina, sendo assim passam a incorporar formas de ser, estar e incorpora, havendo a habitação. E isso está conectado com o aprender com/ na ação /na prática, aquela pessoa é produzida por forças que as capturaram. A aprendizagem inventiva é nômade (habita novos território, da crise, nos forçam a pensar de outras formas e em outras coisas) e não sedentária (habita o território tentando permanecer, neuróticas que querem evitar mudanças). O mudar a pensar, forma de se praticar e viver a vida. E quem sabe o território que eu habito, sou somente eu mesmo e ninguém pode determinar ou até mesmo classificar o como deve ser.
Para o Agenciamento citado, tudo acontece como uma ação, a qual você vem como uma subjetividade e em cada ação vai se dando os agenciamentos (coletivo e de poder), essa mesmo vai modificando esse sujeito com a subjetividade, somos modificáveis pelo agenciamento, sendo inexplicável. E a razão é uma ferramenta, mas que não tem o controle totalmente (Ex.: o mundo, a escola e o sujeito, tudo interligado e com comunicações).
Vídeo: Deleuze e a Educação
https://www.youtube.com/watch?v=9v6HrC17rVo&t=612s
O problema é da sensibilidade, faz sentir e é este que nos faz pensar e criar conceitos. Ver a Educação atrelada com a filosofia como a tentativa de criar conceitos para enfrentar os conflitos.  Rubens, O novo é um território não desbravado, que merece esforço e ação no não ser a mesma coisa sempre e isso evita a perca da potência, com muitos significados, sem deixar entrar no automático, buscar o novo e quebrar automatismo, isso se dá pelo processo criativo. Só conseguimos as coisas se temos coragem, determinação e pincipalmente a disciplina, um grau de esforço para que consiga, mas ter a força de movimento porque o chegar é imprevisível.  

APRENDIZAGEM, ARTE E INVENÇÃO
Virgínia Kastrup (2001)
RESUMO DE CLAYTON BORGES

Virgínia Kastrup (2001) defende neste artigo a ideia de aprendizagem
criativa. Esta é entendida não como recognição, isto é, como passagem do
não-saber ao saber, tampouco como processo de transição que desaparece
com a solução ou resultado. Para tratar da concepção de aprendizagem
enquanto experiência de problematização, a autora se vale do exemplo de uma
viagem a um local desconhecido, em que as atividades do nosso cotidiano,
como tomar um café ou chegar a determinado destino, tornam-se
problemáticas. Quando viajamos somos forçados a conviver com certa
errância, a perder tempo, a explorar o meio com olhos atentos aos signos e a
penetrar em semióticas novas. Somos forçados a pensar, a aprender e a
construir um novo domínio cognitivo. Depreende-se disso que a viagem surge
como ocasião de aprendizagem, na medida em que se percebe que as
relações do dia-a-dia tidas como óbvia são, de fato, construídas e inventadas.
A aprendizagem não se encerra, vale apontar, na solução de problemas
imediatos. Por vezes, quando o viajante retorna, torna-se sensível a paisagens
de sua própria cidade antes despercebidas, indicando que a aprendizagem
começa não quando reconhecemos, mas quando estranhamos, quando
problematizamos.
A Psicologia e suas vertentes, diz Kastrup, vem historicamente
apontando as leis científicas e princípios de estágios da aprendizagem –
entendida enquanto processo de transformação do comportamento ou da
cognição, que demanda uma dimensão temporal. Não há aqui, portanto,
espaço para a aprendizagem inventiva. A invenção é imprevisível, é novidade,
e é mais da ordem da invenção de problemas do que da solução de problemas.
Para explicitar a questão da aprendizagem inventiva e seguindo as trilhas da
filosofia deleuzeana que, por sua vez, baseia-se em Bergson e Hume, Kastrup
recorre a temas como hábito, habilidade e imitação.
O hábito, para Deleuze, forma-se por meio da contemplação, da
exposição aos casos e acasos. Ao contrário da formulação comumente
enunciada de sujeito que possui hábitos, a ideia aqui apresentada é a de hábito
que constitui o sujeito, portanto, o hábito encontra-se no plano das condições
de possibilidade e não no dos fenômenos observáveis. O sujeito nada faz para
ter hábitos, mas a contração faz-se independente dele e mesmo o forma.
Os hábitos definem toda a nossa relação com o tempo: nossos ritmos,
intervalos, tempos de reação e nossas fadigas. Criam também uma disposição
para agir e, mais do que isto, para buscar certas situações em que eles
possam se realizar. Eles também orientam futuras aquisições, pois criam
limites, indicando que não se pode aprender qualquer coisa em qualquer
tempo.
O objeto de um aprendizado são os signos (que não se reduz ao signo
linguístico) e o objetivo de um aprendizado é a interpretação de signos,
explicitando seu sentido. Um objeto emite signos a serem decifrados. Aprender
a cozinhar, por exemplo, é ser sensível aos odores, às cores, às texturas dos
ingredientes da comida.
No processo de aprendizagem, aciona-se o plano de produção da
subjetividade – em que se tocam o diferencial do sujeito e do objeto. Sujeito e
objeto são efeitos, e não pontos de partida ou pólos pré-existentes, pois o signo
se expressa numa matéria, mas não é objetivo; afeta o sujeito, mas não é
subjetivo. Quando somos tocados pelo signo, pela diferença, temos uma
experiência de problematização, de invenção do problema. Só então ocorre a
busca de solução e de sentido.
Quando a inteligência intervém na busca de sentido, é sempre depois da
ação dos signos, já que a inteligência é um processo de solução de problemas
e não de invenção de problemas. Portanto, a aprendizagem inventiva nunca se
restringe ao plano da inteligência, ainda que esta seja acionada.
Para Deleuze, a descoberta fundamental é que a essência do signo, e
sua diferença, é irredutível, quer ao sentido objetivo, quer ao sentido subjetivo.
O que torna os signos da arte privilegiados em relação aos demais é a maior
potência da diferença que portam. O amarelo dos girassóis de Van Gogh é um
amarelo puro, novo, denso e inquietante, que não é objeto de um
reconhecimento.
Em Mil Platôs, a aprendizagem ressurge trabalhada através do conceito
de território. Aprender não é adaptar-se a um meio ambiente dado, mas
envolve a criação do próprio mundo. O território configura limites para a ação,
limites que não são topográficos, mas semióticos. Aprender não é somente ter
hábitos, mas habitar um território. Habitar um território é um processo que
envolve o “perder tempo", que implica errância e também assiduidade,
resultando numa experiência direta e íntima com a matéria.
O habitar resulta numa corporificação do conhecimento, envolvendo
órgãos dos sentidos e também músculos. Habito o território onde me sinto em
casa, tenho habilidades e realizo movimentos que parecem espontâneos. No
caso do hábito, há uma prevalência da sensibilidade sobre a ação concreta; no
caso da habilidade, toca-se diretamente na face de solução de problemas que
a aprendizagem envolve, pois a habilidade envolve um saber-fazer, uma ação
efetiva. O manejo habilidoso é um agir em fluxo, uma lida com as coisas e as
situações, uma atividade e uma prática.
O desenvolvimento da aprendizagem criativa caracteriza-se por um
movimento passivo, mas que não é reflexo mecânico. O exemplo é um jogador
de futebol que se entrega às forças e aos signos que experimenta no campo
perceptivo, deixando-se mover e levar por elas. As ações que o jogador deve
realizar são constrangidas por forças do presente, e seu desempenho não se
esgota no recurso às regras do jogo. A experiência anterior não comparece
pela busca ativa na memória, pela evocação voluntária e consciente, mas por
uma prontidão corporificada pelas aprendizagens anteriores. Trata-se de uma
sintonia fina, molecular e maquínica, pois gera jogadas novas, inusitadas e
imprevisíveis.
A aprendizagem inventiva não é espontânea, mas sim constrangida, não
apenas pelo território que já habitamos, mas também pelo presente que
experimentamos. Há, portanto, uma disciplina envolvida na aprendizagem
inventiva; na disciplina, estamos entregues às forças ou aos signos da matéria
em questão. O desenvolvimento das habilidades depende de uma prática com
as coisas, o que envolve utilizá-las, modificá-las e até destruí-las. Assim
desenvolvemos aptidões e formamos conhecimentos inscritos corporalmente. A
disciplina é uma condição, embora não garanta que a invenção se cumpra.
A aprendizagem envolve não apenas processos de territorialização e
subjetivação, mas também de desterritorialização e dessubjetivação. Habitar
um território é como ser íntimo, mas também ter a possibilidade de acolher o
estrangeiro. Toda aprendizagem inventiva é crítica, no sentido de que concerne
aos limites e envolve sua transposição, impedindo o sujeito de continuar sendo
sempre o mesmo. Em resumo, a aprendizagem abarca devires, bem como a
corporificação do conhecimento. Seu caráter de devir exige do aprendiz uma
errância, um mergulho no mundo da matéria, o que implica um movimento de
dessubjetivação, de desprendimento de si e mesmo um sacrifício do eu pré-
existente. Seu caráter de corporificação diz respeito ao fato de que a
aprendizagem produz uma configuração sensório-motora que é obtida pela
assiduidade com que se habita um território.
O caráter paradoxal da aprendizagem inventiva é que, além de exigir o
“perder tempo” e a errância, ela envolve também, e de modo inelutável, um
trabalho, uma repetição, uma disciplina, uma série de experiências, de
exercícios e práticas que resultam na formação de hábitos e competências
específicas. O hábito responde por um certo ritmo, uma assiduidade na
habitação de um território. O desenvolvimento das habilidades e competências
se faz quando o comportamento se torna um pensamento corporificado.
Mas a aprendizagem inventiva não tem a adaptação como seu ponto de
vista, e sim a arte. Cozinhar como artista, por exemplo, é inventar novos pratos
e novos sabores, lidando com fluxos, cores, odores, texturas, consistências,
nuances. Isso envolve uma molecularização de sua percepção e de sua ação,
todo um aprendizado sensório-motor, toda uma familiaridade com um certo
sistema de signos.
O tema da aprendizagem inventiva suscita uma questão: é possível
ensinar ou fazer inventar? Deleuze recorre à concepção de imitação
enunciada por Gabriel Tarde para pensar a aprendizagem. Diferentemente da
ideia de imitação enquanto modelação, cujo mecanismo é baseado no controle,
a imitação aqui é entendida como contágio e propagação. O processo de
aprendizagem inventiva é como a transmissão de uma epidemia por bactéria
ou vírus, isto é, uma propagação que se dá por pontos de bifurcação, gerando
uma grande rede, múltipla e instável. Na relação de ensino-aprendizagem não
há transmissão de informação e o professor não é o centro da aprendizagem,
portanto, não deve se furtar de sua condição de aprendiz.
O professor faz circular afetos e tem o poder de atrair para a matéria, e
não para um saber pronto, ele funciona como um atrator caótico – que não tem
a propriedade da estabilidade, pois apresenta comportamento de tipo aleatório,
incerto. Cada agenciamento professor-aluno é um ponto de bifurcação, de
proliferação de possíveis, de multiplicação de fontes, de ramificação. Por isto
não há programa ou método de trabalho para a aprendizagem inventiva, mas
uma política pedagógica a ser praticada, que consiste numa relação com o
saber que não é de acumular e consumir soluções, mas de experimentar e
compartilhar problematizações, e a adoção da arte como ponto de vista faz
parte desta política, na medida em que libera a aprendizagem da solução de
problemas, que faz da performance adaptada um valor em si.


Provocação:
Em sua percepção, ao habitar o território do grupo de estudos, ocorre
aprendizagem inventiva? Em caso afirmativo, traga-nos exemplos de como isso
vem ocorrendo.  



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